Educação de
qualidade: importância do envolvimento da família*
Constitui tarefa desgastada pela rotina destacar a importância do
envolvimento dos pais no processo de aprendizagem dos alunos, tanto em escolas
particulares como em escolas públicas. Pesquisas recentes mostram que oito em
cada dez escolas públicas brasileiras consideradas de alta qualidade por seus
resultados no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) apontam o
envolvimento familiar como uma das mais importantes causas de seu sucesso, e
estudos realizados pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) destacam um aumento de
cerca de 20% nas notas dos alunos quando existe proximidade entre escola e
pais. Esses mesmos estudos revelam que cai em 64% o abandono da escola pelos
alunos quando seus pais se fazem presentes nas atividades escolares.
É evidente que o envolvimento pleno dos pais abriga limites que jamais
podem ser ultrapassados. Uma escola, guardando-se as devidas proporções, é como
um centro médico, e se neste não se aceita que não profissionais intervenham, é
também inconcebível que o envolvimento da família possa levá-la a assumir
papéis que somente a profissionais de educação caibam. Mas se é impensável
substituir professores ou gestores pelo apoio da família, sua ajuda é muito
necessária em inúmeras outras atividades.
Relacionamos abaixo uma série de processos desenvolvidos por escolas de
qualidade que, atraindo os pais, faziam, com que eles se sentissem plenamente
justificados para essa convocação.
· Acompanhe de forma assídua o desenvolvimento intelectual e social dos
filhos.
É sempre muito importante para uma criança ou um adolescente que seus
pais mostrem interesse por suas atividades. É sempre expressiva a evolução de
um aluno que se vê cercado de adultos que assistem seu crescimento com
acentuado interesse, aplauso e entusiasmo.
· Estabeleça um horário para estudos com intervalos para descanso.
Nada se compara à eficiência do estudo em casa, que se transforma em
hábito, e o hábito é criado com a persistência de definirem-se local e horário
para estudos, todos os dias. A duração do esforço depende de haver prova
marcada ou não, lição mais fácil e mais difícil, mas a rotina (mesmo aos
sábados e domingos) é imprescindível, não se devendo esquecer que um curto e
agradável intervalo é sempre eficiente.
· Três letras E que não devem faltar: Entusiasmo, Exemplo e Elogio.
A ajuda dos pais deve ser espontânea, alegre e entusiasmada, e é
importante que o aluno perceba que os pais o ajudam com prazer. O entusiasmo é
essencial, assim como o elogio sincero e o exemplo de dedicação, esforço e
empenho.
· Identifique as dificuldades de seu filho e não brigue por causa erros
cometidos.
Ao perceber que os filhos mostram dificuldades, não hesite em buscar
ajuda na escola, solicitando linhas de procedimento. Saiba que “errar” faz
parte do bem aprender, por isso jamais brigue com a criança por erros
cometidos. Mesmo que tenham sido provocados por falta de atenção ou empenho,
advirta-a com firmeza e serenidade, com paciência e doçura.
· Ajude os professores no estabelecimento de limites e na firmeza e
coerência com que filhos e alunos assumem e compreendem o “não”.
O verdadeiro sentido da afetividade é inspirar segurança e desenvolver
capacidades para a superação de desafios. Nesse sentido, o papel da escola e da
família é cobrar coerência – e rigor, se necessário – no cumprimento de normas,
princípios e regras.
· Gaste alguns minutos por dia com diálogo, permitindo que a criança
compartilhe informações sobre como foi o dia dela na escola.
Pergunte à criança o que ela aprendeu, levando-a a falar de seus
professores e de suas atividades. Pergunte sempre sobre seus amigos.
· Mostre interesse constante pelas lições e tarefas de seus filhos.
Peça para ver seus livros e cadernos, não com o intuito de “fiscalizar”
seus trabalhos, mas para mostrar interesse pelo que faz, para aplaudir seus
desenhos e suas tarefas. Saiba fazer-se aluno dos filhos e, assim, mostre
interesse e curiosidade, buscando explicações.
· Com paciência e perseverança, assista a uma aula ministrada pela
criança, pelo menos uma vez a cada semana.
Invente uma brincadeira de faz de conta em que o adulto é o aluno e a
criança o professor e assista a uma “aula de mentirinha” sobre qualquer assunto
que a criança deseje ensinar ou sobre temas nos quais ela mostrou firmeza.
· Interesse-se em conhecer as brincadeiras preferidas de seu filho e,
quando possível, brinque com a criança como ela o faz com seus amigos.
Nunca assuma o comando da brincadeira; deixe que a criança faça as
regras e seja árbitro de sua participação.
· Lembre sempre de solicitar à criança que explique duas vezes a mesma
coisa, mudando na segunda explicação as palavras empregadas na primeira.
Essa atividade não apenas estimula a ampliação do vocabulário, como
também sugere desafios para formas diferentes de pensar.
· Evite ensinar para a criança tudo quanto ela pode aprender sozinha.
Mesmo conhecendo o assunto, em vez de apresentar respostas, anime-a a
consultar um dicionário, ajude-a a fazer pesquisas em livros ou na Internet.
· Saiba se fazer um ouvinte atento e paciente.
Duas ou três vezes em cada semana, peça à criança que leia algum parágrafo
de um de seus livros para você. Após essa leitura, faça perguntas sobre o
texto, proponha desafios, sugira que ela o explique usando palavras diferentes.
· Cuide para que a criança aprenda a conservar seu material escolar.
Nunca esqueça de elogiar uma lição bem feita, um caderno ou um livro bem
cuidado, um estojo arrumado e em ordem, e sempre guardado após seu uso. Não
guarde nada para a criança, acompanhe-a em sua tarefa de guardar.
É evidente que esses procedimentos foram relacionados não para serem
assumidos integralmente, mas sim como ideias e sugestões que necessitam
ajustar-se e adaptar-se à realidade de cada escola e ao ambiente social de cada
família. Como inúmeras outras vezes se destacou, uma escola de
qualidade não se constrói com gesto de magia, mas com um lento caminhar passo a
passo. O envolvimento familiar pleno é, indiscutivelmente, um desses passos
mais importantes.
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